Astor dirige um olhar severo à sua pupila:
— Vocês violaram uma correspondência diplomática? Tem alguma idéia do quanto isso é sério, Mirwen?
Ele segura o pergaminho sem abri-lo.
— É melhor esperarmos que Darniar acorde. Ele deverá estar mais bem disposto hoje.
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Fandar dorme, porém seu espírito continua desperto, sente que está sendo vigiado. Surge um vulto no corredor além da capela esgueirando-se e o sacerdote o segue indo chegar onde Darniar I descansa. O vulto negro exala maldade e fora de seu corpo Fandar não tem chance alguma contra a criatura, principalmente após ter exaurido suas forças durante o dia, mas isso não o impede.
Lá dentro, Fandar pode ver a luz que emana da alma de Edínio, o piedoso que monta guarda junto ao corpo do rei. A criatura demonstra repulsa àquela luz, então afasta-se e derruba um dos castiçais que se encontra em um canto fastado atraindo assim o nobre clérigo.
Assim que Edínio se afasta a criatura se aproxima do esquife sussurrando:
- Acorde Darniar... Desperte do seu sono....
O espírito do rei desperta e então a criatura continua:
- Pobre rei, traído e assassinado apenas por ter nascido da união proibida de homens e elfos. Pobre vítima, humilhado, abandonado e nesta hora final nem tua familia poderá chorar tua passagem para o reino de Crrrrruinnnnnnne (e neste momento, o rosto da criatura se contorce como se fosse um enorme sofrimento proferir tal nome). Mas não precisa ser assim, meu mestre lhe envia sua benção negra. Aceite-o, diga seu nome e ele dará nova vida a seu corpo e poder para se vingar de todos. Aceite-o e renasça como o rei dos desmortos - askianthi daemoniarakialah.
Dizendo isto retira de dentro de si mesmo um punhal negro com runas de sangue e o estende a Darniar. Neste momento o espírito de Fandar, mesmo sabendo estar fadado ao fracasso, atira-se contra a criatura espectral atingindo-a da surpresa e fazendo com que a adaga ritual se desfaça numa nuvem escarlate. O monstro volta-se contra o espírito de sacerdote e com um golpe de suas garras rasga seu peito causando uma dor inimaginável (uma ferida na alma, invadindo-a com doses cavalares de ódio, tristeza, amargura) prostrando-o.
- Pequeno sacerdote - diz a abominação - tão insignificante como sua ordem da Aldrabar (e dizendo isso cospe no chão)... Será delicioso devorar sua alma finalmente...
Então, quando prestes a fazer sua ofensiva final, seu semblante revela uma expressão de dor enquanto uma lâmina de luz atravessa seu peito, a Lâmina de Darniar. O espectro do rei atinge o demônio, que volta-se para ele, dizendo:
- Duas almas inocentes. Não poderia haver melhor banquete.
Porém seu sorriso doentio transforma-se em uma expressão de desespero quando a luz do coração puro de Edínio invade a sala. Ele tenta fugir, mas Fandar, reunindo todas as sua forças, agarra-se à crtiatura impedindo-a de fugir, enquanto Darniar a golpeia com sua espada de luz.
Quando as preces de Edinio o alcançam, o amor e a pureza daquelas palavras despedaçam o espirito corrompido, que guincha em agonia até que não sobre nenhum vestígio. Darniar então vira-se para Fandar e diz:
- Obrigado, eu agora devo voltar ao meu descanso. Mas seu feito não será esquecido.
E assim volta para seu sono porém seu corpo agora demontra um semblante sereno. Uma lágrima escorre pela face de Edínio, que num sorriso encerra sua prece.
Pouco tempo depois, Fandar desperta, uma dor em seu peito dando-lhe a certeza de que aquilo não foi apenas um sonho.