A Aldeia (32)

A noite transcorre tranqüilamente. E, pela primeira vez nos últimos dias, a manhã nasce com o céu límpido, um novo sol brilhando e iluminando a esperança renovada dos aldeões.

Tyssine e Fandar acordam com o som de crianças brincando e gritando. Encontram o sacerdote já de pé, assim como Durvalis.

— Bom dia! Há um banquete preparado para vocês, lá fora — diz o anfitrião. — Mendagor deverá demorar um pouco mais a acordar, só de madrugada o chefe da aldeia o substituiu na vigília para que ele pudesse vir dormir.

Fandar se sente revigorado. As queimaduras da noite passada se foram, num evidente sinal de ação divina. Porém, os chamuscados no seu manto lembram os terríveis momentos que passou. E a cabeça do velho, que ele decepou em meio às chamas, parece olhar para ele, de cima de uma mesa.

A Aldeia (31)

— Bem, a minha função é garantir que o senhor de Magarak esteja lá. E tenho certeza de que nenhum nobre que se preza deste reino deixará de estar presente, assim como muitos de reinos vizinhos e até mesmo as casas reais de Calco e Conti, para não falar na de Âmien — responde o mordomo. — É por isso que precisamos sair daqui amanhã bem cedo.

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O corvo pousa no ombro do seu mestre e acaricia sua cabeça com o bico. Fandar e Mendagor, acompanhados dos aldeões, chegam à aldeia e encontram as crianças e seus pais em festa.

O sacerdote que os recebeu vai correndo falar com Fandar:

— Venha para minha cabana, você precisa de cuidados.

Magarak Menor (15)

Nemo responde, irritado:

— Senhorita, não tenho que lhe dar satisfações sobre o que faço ou não.

Dizendo isso, dá as costas à elfa e vai montar em seu burrico. Dulo faz o mesmo.

Turerme, depois de observar a cena, entrega um pergaminho a Akanien:

— Muito obrigado. Basta dar isso a ele.

A Aldeia (30)

— Tem razão. Só podemos agradecer aos deuses por eles estarem tão longe de qualquer tipo de lei ou de autoridade. Normalmente eu acharia isso uma aberração, mas tenho que admitir que, pelo menos neste momento, eles são um povo feliz — admite Durvalis, enquanto crianças e adultos dançam em torno do fogo.

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Um meio-elfo comenta com Mendagor:

— É melhor ele sair logo, porque ninguém sobreviveria muito tempo aí dentro. Duvido que a tal Ziena ainda esteja aí. Até os morcegos fugiram!

Nesse instante, a saída de Fandar, com o manto inteiramente queimado e trazendo na mão o crânio do velho, provoca impacto. Os aldeões recuam, amedrontados.

Magarak Menor (14)

— Ora, não será difícil! Todos em Donatar conhecem a loja de Percol, fica bem no centro, perto do palácio do rei, que Cruine o tenha — explica Turerme.

Enquanto isso, Nemo e Dulo olham um para o outro, e depois para Mírwen.

— Respeito? Gratidão? Perder a confiança? Mas do que você está falando, afinal?

— A idéia de ir no mato foi minha, ora. Ou você queria que eu fizesse xixi na estrada, na frente de todo mundo? Dulo também achou que seria bom esvaziar a bexiga antes de continuar a viagem... isso é proibido agora?

A Aldeia (29)

Enquanto Tyssine fazia seus cálculos e especulava sobre o destino de seus companheiros, os aldeões preparavam uma fogueira. Logo surge alguém com uma velha rabeca e começa a comandar uma dança de quadrilha com as crianças, um festejo típico dessa região de Tagmar nesta época do ano.

Durvalis, vendo aquilo, balança a cabeça.

— Nem um pouco apropriado. Compreendo a alegria deles, mas ainda assim estamos de luto. Um oficial do rei poderia até mesmo prendê-los todos por traição — ele comenta.

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Com a ajuda dos meio-elfos, Mendagor apaga o fogo de suas roupas, enquanto vê seu amigo entrando cada vez mais na caverna. Guiado pela mão de Cruine, Fandar consegue chegar ao fundo, onde o corpo do ancião, ainda acorrentado à pedra, é um autêntico archote humano.

Magarak Menor (13)

Enquanto Mírwen vai trocar de roupa, Turerme se aproxima de Akanien e diz:

— Então, pelo que os rapazes me contaram, vocês depois vão a Donatar para as cerimônias! Sim, bem que eu gostaria de ir, mas tenho compromissos importantes por aqui. Mas será que vocês poderiam me fazer um favor? Apenas uma pequena entrega a um comerciante de lá, amigo meu. Nada de mais, só um pergaminho.

Quando Mírwen volta, Truagrô pergunta:

— Mas onde se meteram aqueles dois? Estão atrasando nossa viagem!

Logo em seguida, Nemo e Dulo saem do mato, rindo e cochichando.

Magarak Menor (12)

Nemo dá a impressão de que vai falar mais alguma coisa, mas apenas balança a cabeça, resignado.

Turerme, por sua vez, está empolgado.

— Espero que o novo rei cuide melhor da segurança das estradas, já que com os nobres nem sempre podemos contar. Provavelmente, eu acabaria dizendo ao conde que fosse cobrar dos ladrões os impostos, se não fosse pela intervenção de vocês.

A Aldeia (28)

Tysine encontra as crianças já em segurança nas suas casas. Reina um clima de festa na aldeia. A elfa é recebida como heroína por pais e mães agradecidos, quando as crianças contam como ela as salvou e ainda enfrentou um terrível demônio.

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Quando Fandar e Mendagor terminam de falar com os aldeões, ouve-se um ruído forte vindo de dentro da gruta. São guinchos e gritos, e antes que os dois possam compreender o que está acontecendo, uma nuvem de morcegos sai da caverna, voando a toda velocidade.

Em seguida, ouve-se uma grande explosão e chamas tomam conta do corredor.

A Aldeia (27)

Tyssine, Fandar e Mendagor nada conseguem descobrir. Na saída da caverna, eles encontram os aldeões furiosos, perguntando onde estão os criminosos.

A caverna, ao que parece, é apenas isto: um corredor que se bifurca, com o lado esquerdo levando a sete celas e terminando no pequeno largo onde estava acorrentado o velho humano. Pela bifurcação da direita, o caminho leva ao salão onde estavam as crianças e, em seguida, ao covil da feiticeira.

A Aldeia (26)

Em cada cela, os aventureiros encontram uma cama de palha, umacadeira e algumas roupas velhas. Numa delas, há também uma pequena mesa com dois gládios, um escudo pequeno e oito punhais. Em outra, um saco de moedas foi deixado sobre a cama.

A última delas tem um forte cheiro de ervas aromáticas. Pendurado no encosto da cadeira, foi deixado um cordão com um medalhão demoníaco.

Magarak Menor (11)

Depois de o obstáculo ser removido da estrada, o grupo retoma a viagem. Mas Nemo, sempre inquieto, dá um jeito de se aproximar de Akanien e dizer, em voz baixa:

— Autoridade? Pode até ser, mas tinha alguma coisa mais ali que ninguém viu. O que você fez?

A Aldeia (25)

O velho tosse e, com um fiapo de voz que faz todos tremerem, diz a Fandar:

— Não há nada mais a fazer.

As correntes prendem seus pulsos e tornozelos à pedra, não há como soltá-lo.

Nesse instante, o Falcão diz a Mendagor:

— Minha missão aqui está encerrada, servo de Crisagom. Que a Justiça continue guiando seus passos.

E em seguida desaparece, tornando-se uma luz amarelada que se apaga aos poucos diante dos olhos dos três heróis.

Tyssine, Fandar e Mendagor encontram muitas pegadas, mas apenas revelando a movimentação de pessoas do local onde estão, que é o fundo da caverna, até a sua entrada. Restam somente a examinar as celas cujas entradas se enfileiram no corredor.

Magarak Menor (10)

O lider vai baixando seu arco à medida que vê o fogo tomar conta do corpo dos dois elfos, e bate em retirada, seguido pelos outros membros do bando. Turerme recolhe seu saco de dinheiro caído no chão, assim como os pertences de Mírwen e Akanien, que vai logo entregar aos dois.

— Puxa, nunca vi alguém se impressionar tanto com uma ameaça. É verdade que sua irmã deu um jeito nos outros, mas não achei que ele fosse obedecer você — comenta.

No entanto, Nemo olha atentamente para o elfo, em silêncio, tentando entender o que aconteceu.

— Bem, ainda temos que tirar esse tronco do caminho — comenta Dulo, e começa a descarregar os burros para a tarefa.

A Aldeia (24)

Os aventureiros passam por uma parte mais larga do corredor, iluminada por tochas, com portas para o que parecem ser pequenas celas. E, no fim dele, encontram o Falcão da Justiça diante de um idoso seminu acorrentado à parede. O enviado testa as correntes, em vão.

— É inútil, enviado divino — ele diz, com a voz frágil e emocionada, entrecortada pela tosse que às vezes o faz cuspir sangue. — Já não há mais como salvar minha vida. Mas morro feliz, sabendo que vocês impediram aquela megera de executar seu plano maligno. Nunca mais meus poderes serão dominados por ela. A morte que tanto pedi aos deuses finalmente se aproxima. Estou livre, afinal...

E fecha os olhos, deixando tombar a cabeça.

Magarak Menor (9)

A bola de fogo e a invocação certamente aprendida em Hogwarts surpreendem os bandoleiros. Dois deles sofrem queimaduras leves, o terceiro foge correndo, com o corpo em chamas. Porém, o líder escapa da explosão e dispara sua flecha, gritando:

— Vai pagar por isso, bruxa elfa!

A flecha certeira atravessa o manto de Mírwen e arranha seu ombro, sem chegar a feri-la seriamente. Mas o bandoleiro já tira outra flecha da aljava e prepara novo disparo. E ordena aos dois companheiros restantes:

— Usem seus punhais!

Na mesma hora, os dois largam os arcos inutilizados pelas chamas e preparam-se para arremessar suas lâminas.

Enquanto isso, o que estava subindo se assusta com a corda transformada em cobra, larga-a no meio da subida e cai no chão, deixando cair tudo o que havia roubado. Assustado, vai embora correndo.

A Aldeia (23)

O Falcão da Justiça concorda com Mendagor. E, lembranco que não pode ficar mais muito tempo neste plano de existência, explica que vai explorar a outra vertente da caverna. Em seguida, sai voando velozmente.

Quando Tyssine chega à caverna, encontra Fandar e Mendagor examinando o livro, sem contudo descobrir muita coisa além de signos demoníacos. A tarefa ainda é mais difícil para Fandar, pois os caracteres são do idioma Malês.

Nesse momento, soa a voz do enviado:

— Venham! Aqui!

Magarak Menor (8)

O bandoleiro resmunga alguma coisa e recolhe o punhal. Mas logo o líder grita do alto do barranco: "Ande, termine logo o serviço!"

Ele então vê o saco de moedas de Mírwen e o recolhe, fazendo o mesmo em seguida com o punhal e a flauta de Akanien.

Em seguida, sobe pela corda, de volta para o alto do barranco. Os outros quatro continuam com seus arcos apontados para o grupo.

A Aldeia (22)

"Vamos todos! Queimem a bruxa!", gritam os aldeões, correndo atrás de Tyssine em direção à caverna, enquanto alguns voltam para a aldeia com as crianças.

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Mendagor não consegue ler as inscrições no livro, que está escrito em alguma espécie de código secreto. Porém, há ilustrações mostrando figuras humanas e traços sobre elas, como se indicassem a forma de cortar as vítimas de um ritual.

Ninguém responde. O único som que se ouve são os guinchos de morcegos no teto da caverna.

De repente, o Falcão da Justiça chega com os gládios dos dois sacerdotes.