Serfa (24 - Segunda atualização)

Astaroth voa, feliz, soltando um grito. "Ele ama a liberdade. Tanto quanto eu", comenta Enorim, deixando que por uma fração de segundo uma sombra obscureça seu rosto alegre.

Logo em seguida, porém, recupera o ar jovial. E responde a Tyssine:

- Ora, você deveria saber mais sobre a corte do que eu. Tem, sem dúvida, os modos de uma nobre, para não falar no jeito de dançar. Já faz algum tempo que não passo por Donatar. Mas amigos meus que estiveram por lá andaram me contando coisas estranhas. Dizem que o neto do rei Darniar, filho do seu filho mais velho e portanto o segundo na linha de sucessão, desapareceu; e que a mãe, furiosa, culpou o marido e decidiu abandonar a corte, indo viver num mosteiro. Mas não costumo dar ouvidos a boatos assim. Estou mais preocupado com a história de que os elfos são cada vez mais malvistos pelos ministros do rei. Atualmente, todos eles são humanos, e pelo menos um já se queixou de que os elfos de Âmien têm mais influência por aqui do que deviam. O pior é que alguns idiotas, para bajular os ministros, ficam discriminando elfos, e convencendo parte do povo a fazer o mesmo... E logo onde! Em Ludgrim, onde quase toda família tem sangue élfico!

Em seguida, toma um gole do licor de cenoura que comprou na estalagem e pergunta:

- E vocês? Não me parecem o tipo de gente que vem para festas rurais... o que os traz a Serfa?

---

Akanien tem cada vez mais dúvidas na sua mente. Ele encontra uma árvore no Campo de Nira que por algum milagre não tem nenhuma tenda de cozinheiro por perto, e ali pode repousar para tentar pôr seus pensamentos em ordem.

Ele ouve ao longe os sons da festa na praça. Sons de vida e de alegria.

Um pequeno lagarto chama a sua atenção. Ele anda cuidadosamente pela relva, umapequena maravilha de movimentos bem coordenados, até que um corvo mergulha do nada e o pega em seu bico.

O choque logo dá lugar à serenidade quando Akanien se lembra das palavras de seu mestre: "Tudo no mundoé parte de um ciclo interminável... vida e morte, magia e natureza, tudo se cria, se destrói e e se renova. Assim decidiram os deuses quando criaram este mundo."

---

O sono leve de Mendagor é interrompido por um som que vem de fora da cela. São vozes em coro, cantando um hino a Quiris. Aos poucos, o volume diminui, permitindo ao sacerdote concluir que uma procissão passou pelo corredor interno do claustro e se afastou.

Quando se prepara para dormir de novo, porém, ouve outro som, agora vindo da cela ao lado. São barulhos de chicotadas e um choro baixinho.